Pesquisas


Pesquisas coordenadas ou com participação de pesquisadores integrantes do Lastro:

Trabalho e trabalhadoras/es da indústria eletroeletrônica no Brasil (2019 – Atual)
Coordenação: Profa. Dra Thais de Souza Lapa (PPGSP)
Participação de estudantes: Isabela Flor da Rosa

O projeto tem por objetivo analisar configurações contemporâneas do trabalho no segmento de “linha verde” da indústria eletroeletrônica no Brasil. A “linha verde” é responsável pela fabricação de produtos de informática como computadores (desktops e notebooks), tablets, servidores, impressoras, além de telefones celulares, entre outros – por exemplo, seus componentes. Mais especificamente, visa-se examinar as características do trabalho e das/os trabalhadoras/es deste segmento industrial, com enfoque na região sul do país.

Numa perspectiva sociológica do trabalho, enfrenta-se o problema de sistematizar e dar “corpo” analítico a um tipo de trabalho industrial de estruturação recente, que emerge no bojo das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), mas cujos processos de trabalho das manufaturas, por vezes penosos e insalubres, residem ainda ocultados ou mitificados sob uma aura de “modernidade” e “inovação”. Pretende-se assim “retirar o véu” da produção de equipamentos eletroeletrônicos de linha verde e colocar em evidência o que carrega de similar com demais setores tradicionais da indústria (automotivo, de confecções, etc), bem como trazer luz ao que o constitui singular. A delimitação dos contornos da particularidade do trabalho nesse setor é proposta nos seguintes sentidos: (i) dos métodos de gestão e organização do trabalho (ii) das características da força de trabalho manufatureiro do setor.

A caracterização do trabalho e de trabalhadores/as do setor será situada no contexto das transformações que ocorreram no país sobretudo desde 2004, passando por e procurando compreender os impactos setoriais de importantes momentos de inflexão como 2008 (crise internacional), 2014-15 (crise econômica nacional) e 2016 (crise política e institucional nacionais, início de um realinhamento ao neoliberalismo tout court). Ademais, no contexto internacional, vem se desenvolvendo uma reconfiguração do trabalho industrial, sobretudo desde os anos 1990, com os processos de globalização de orientação neoliberal, de reestruturação produtiva em busca da recuperação dos padrões de lucratividade do capital e com a revolução tecnológica ocasionada pelo desenvolvimento da microeletrônica. No setor eletroeletrônico, tais mudanças vêm sendo acompanhadas do desenvolvimento de uma fragmentação do processo produtivo entre, de um lado, a concepção dos produtos concentrada nos países centrais e, de outro, a manufatura industrial externalizada a países periféricos – entre eles o Brasil.

a relevância do projeto para o avanço no conhecimento no campo da sociologia do trabalho e do desenvolvimento se coloca em dois sentidos. Um deles é o de cobrir uma lacuna de estudos de enfoque sociológico sobre processos de produção e produtos que são impregnados de “inovação” e tecnologia, mas que carregam também as marcas de um taylorismo duro mesclado com métodos flexíveis de gestão (“neotaylorismo”). A ênfase sociológica tem o potencial de evidenciar e discutir os elementos que favorecem a constituição dos contemporâneos métodos de organização e gestão (como as reformas trabalhistas pelas quais o país vem passando), suas consequências sociais e por vezes, conflitos que destas decorrem.

Outro elemento que dota importância ao projeto é o de que que tal nova classe trabalhadora que emerge do setor eletroeletrônico de linha verde tem, diferente do padrão fordista, um perfil eminentemente feminino, elemento que implica novos desafios à pesquisa sociológica do trabalho, dado que não necessariamente os mesmos recursos analíticos para analisar as condições laborais em ambientes laborais masculinos são plenamente válidos para analisar setores onde a força laboral predominante é feminina. Nesse sentido, ganha relevância a problemática da divisão sexual do trabalho, articulada à problemática de sua divisão internacional e o papel que o Brasil nela cumpre.


Condições de trabalho de profissionais de enfermagem (2019 – Atual)
Coordenação: Profa. Dra Thais de Souza Lapa (PPGSP)
Participação de estudantes: Alice Braibante Kaspary

A despeito de ter sido considerado essencial (por meio de decretos federais) durante a pandemia de Covid 19, o trabalho de profissionais de saúde como os da enfermagem no Brasil não parece ter tido nenhum tipo de medida de proteção, valorização ou reconhecimento institucional pelas gestões governamentais – desde o âmbito municipal até o federal. Pesquisas têm apontado o quanto esta valorização foi demonstrada em diversas regiões do país muito mais de modo simbólico, na forma de homenagens, como agradecimentos por meio de palmas, atribuindo-lhes heroísmo.

Com o desdobramento da pandemia e o acúmulo de insatisfações de enfermeiras/os e técnicas/os em enfermagem com a falta de recursos para trabalhar e com a permanência de sua desvalorização, a contestação do atributo de “heroísmo” passou a figurar em diversas manifestações que passaram a ocorrer no país – entre elas a adesão a uma greve, em Florianópolis. Tendo em consideração que o trabalho na enfermagem era, já desde antes da pandemia que se iniciou em 2020, uma atividade fundamentalmente feminina (mais de 80%) e desvalorizada – percebendo salários médios próximos a um mínimo em certas regiões e sem um piso nacional, e que certas fragilidades em direitos e proteções já vinham acometendo a categoria desde a Reforma Trabalhista de 2017, considera-se que a análise de suas condições de trabalho desde a pandemia tende a revelar um cenário de piora de uma situação já frágil, atravessada por uma conjunção de fatores. Isso significa que o cenário de crise sanitária será articulado com o de crise econômica e política no qual o país já se encontrava em anos recentes e com a histórica divisão sexual desigual do trabalho neste segmento profissional, para que se contextualize a situação de trabalhadores/as em enfermagem desde a pandemia.

Assim, o objetivo desta pesquisa é duplo: (i) caracterizar as condições de trabalho de profissionais da enfermagem (enfermeiros/as e técnicos/as) desde o espraiamento da Covid 19 e suas variantes, notadamente no que se refere a aumentos de carga de trabalho, de intensificação decorrente de defasagem de equipes sem a devida recomposição, e (ii) identificar os processos de construção de identidade profissional e coletiva em um sentido político e reivindicativo (sujeitos coletivos) que possibilitaram a deflagração de greve dos servidores e servidoras municipais de Florianópolis com importante adesão de profissionais da saúde, observando-se em especial o perfil e as formas de participação dos que atuam na enfermagem.


“Iguais ou Diferentes?” Perfis e Trajetórias de universitários “cotistas” nas carreiras de Medicina e de Pedagogia da UFSC
Coordenação: Prof. Dr. Eduardo Vilar Bonaldi (PPGSP)
Participação de estudantes: Luan Viricimo

Esse projeto articula um exercício de pesquisa documental à condução de entrevistas em profundidade com o intuito de, primeiro, acompanhar e reconstruir como noções sobre identidades, estilos de vida e propensões políticas são construídas e circuladas por um fonte documental amplamente consumida pelas classes médias brasileiras, isto é, a Revista VEJA, cujo acervo digital (de 1968 a 2016) constitui o objeto desse exercício de pesquisa documental.

Ademais, como o projeto também se interessa em observar de que modos essas noções sobre classe média seriam (ou, eventualmente, não) incorporadas e expressas por indivíduos e famílias que tendem a reivindicar tal estatuto identitário, o projeto também abrange a realização de entrevistas em profundidade com indivíduos (inicialmente, nas cidades de São Paulo e de Florianópolis) selecionados a partir de inserções ocupacionais tipicamente associadas à identidade e aos estilos de vida de classe média de acordo com a literatura, nacional e internacional, especializada no tema.


Perfil do Jornalista Brasileiro 2021: Características sociodemográficas, políticas, de saúde e do trabalho (2020 – Atual)
Coordenação: 
Prof. Dr. Samuel Pantoja Lima
Participação: Abinoan Santiago dos Santos | Carlos Marciano | Clarissa Peixoto | Edgard Patrício | Gastão Cassel Fábio Pereira | Jacques Mick | Janaína Visibeli Barros | Janara Nicoletti | João Augusto Moliani | João Paulo Mallmann | Kalianny Bezerra | Kevin Willian Kossar Furtado | Mariana Nava | Marluce Zacariotti | Rafael Paes Henriques| Rogério Christofoletti | Vinícius Augusto Bressan Ferreira.

O presente projeto de pesquisa tem a perspectiva de atualizar os dados da rodada anterior do estudo (publicado em março de 2013), no qual houvera uma pesquisa comparativa internacional coordenada pela professora Claudia Mellado, da Escola de Jornalismo da Universidade de Santiago (Chile), cujo objetivo fora analisar a distância entre o que os jornalistas concebem, normativamente, como seu papel profissional, e aquilo que realizam cotidianamente, em sua produção noticiosa. 

Além disso, o estudo pretende acrescentar dados sobre três temas de enorme importância para a categoria profissional: as dimensões da precarização do trabalho; as condições de saúde da categoria; os efeitos sobre os/as jornalistas das transformações estruturais do jornalismo. 


Análise e monitoramento automático do papel do jornalismo e das mídias em suas diferentes plataformas durante as fases da crise sanitária provocada pela Covid-19 em nove países das Américas, da Ásia e da Europa
Coordenação: Prof. Dr. Jacques Mick
Participação: Raíssa Turci | Lynara Ojeda | Natália Paris | Olga Clarindo Lopes | Tatiane Queiroz | Andressa Kikuti

Com base na estrutura e progresso do projeto internacional Journalistic Role Performance (JRP), o objetivo desta pesquisa é desenhar e implementar uma estratégia de análise e visualização de dados para observar os ciclos de atenção midiática gerados durante a cobertura da pandemia da COVID-19, e sua relação com o papel que o jornalismo cumpre em processos de comunicação de risco em nove países da América, Europa e Ásia.

A pesquisa pretende gerar dados abertos sobre notícias da pandemia, cursos de comunicação sobre catástrofes de saúde e produção científica de alto nível. Essas ferramentas serão de uso público, apoiando tomadores de decisão, sociedade civil e pesquisadores, bem como a formação de capital humano. O estudo acompanhará os efeitos que fatores políticos, econômicos e sociais têm sobre a qualidade da informação gerada pela mídia em situações de crise, comparando as plataformas tradicionais (rádio, televisão, online e impressa) com as redes sociais, muito criticadas por gerar comportamentos de risco por parte dos cidadãos, bem como desinformação e falta de confiança entre as diferentes classes sociais.

A pesquisa será realizada em nove países: Brasil, Chile, Estados Unidos, Alemanha, México, Coreia do Sul, Espanha, Reino Unido e Japão.


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