Lastro lança pesquisa sobre trabalhadores.as por conta própria

18/07/2021 14:40

Os resultados da primeira etapa do estudo “Informalidade e discriminação racial e de gênero no trabalho ‘por conta própria’ no Brasil”, realizado pelo Lastro, foram divulgados na semana passada. O relatório “Nas dobras da precariedade” identificou as características e revelou desigualdades entrecruzadas nos mais de 24 milhões de trabalhadores.as por conta própria urbanos do país, com base em uma metodologia que interseccionou dados de renda, gênero, raça, região em ocupações mapeadas pela PNAD-C (Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua).

Coordenada pelos professores Jacques Mick (CFH/SPO/LASTRO-UFSC) e João Carlos Nogueira (REAFRO e NEN/UFSC), a pesquisa revelou que os.as “conta própria” são 77% informais. Sob a ótica da divisão sexual do trabalho, a maioria são homens (63%), sendo 35,5% e 27,3% brancos. Entre os 37% de mulheres, 19,7% são brancas e 17,6% negras. Foram analisadas também a distribuição de tais trabalhadores.as por faixas de renda (até R$ 500, R$ 500,00 a R$1.000,00, R$ 1.001,00 a 2.000, R$ 2001,00 a 4.000,00 e mais de R$ 4.000,00) e pelas 20 principais profissões que ocupavam.

Veja mais informações aqui. 

A perspectiva analítica que coaduna a divisão sexual com a racial do trabalho e as situa em perspectiva histórica – que remete à longa trajetória de estruturação de desigualdades no mercado do trabalho brasileiro – orientou e contextualizou os achados da pesquisa a respeito da concentração das ocupações pior remuneradas (até 1000 reais mensais) entre a população negra. Dentro deste universo, padrões de segregação por gênero existentes no mercado de trabalho se repetem: mulheres negras predominam em serviços de beleza, costura e trabalho em cozinhas, enquanto homens predominam nas atividades da construção civil e como condutores de motocicletas.

De outra parte, no outro topo das remunerações analisadas, acima de 4 mil reais, o cenário é inverso. A maioria são trabalhadores.as brancos.as – que são, novamente marcados.as pela segregação ocupacional por sexo: entre homens brancos, a atividade principal é a de agricultores e trabalhadores qualificados em atividades da agricultura, seguida de engenheiros civis e representantes comerciais e entre mulheres brancas, predominam profissões liberais que requerem ensino superior, como a de psicóloga, seguida da de fisioterapeuta.

Em síntese, identifica-se que na pirâmide ocupacional dos.as conta própria, o topo das atividades melhor remuneradas é ocupado por homens brancos, seguidos de mulheres brancas, homens negros e, por fim, na base da pirâmide, estão as mulheres negras. Ou seja, à medida que a renda cresce, o trabalho por conta própria se torna um mundo mais branco e mais masculino.

A pesquisa oferece uma importante contribuição aos estudos sobre o trabalho por conta-própria no Brasil, que historicamente são predominantemente informais e que foram parcialmente impactados, na primeira e início da segunda década dos anos 2000, por iniciativas de formalização, que converteram parte deles.as em MEIs. O estudo também joga luzes e melhor define os contornos do que se chama genericamente de “empreendedores.as” no país.

Na primeira fase, a metodologia de extração e de análise dos dados, chamada de interseccional ou consubstancial, que entrecruza as dimensões de gênero-raça-classe (aqui representada por renda), além de região e distribuição ocupacional, foi central para revelar a heterogeneidade da composição dos.as “conta própria”.

O diagnóstico produzido também é relevante para a orientação e formulação de políticas públicas relacionadas a trabalho e renda no Brasil.

 

Confira aqui a íntegra do relatório da pesquisa.

 

Outros dados a respeito da pesquisa podem ser conferidos nas notícias a seguir:

 

A segunda fase da pesquisa, de cunho qualitativo, ainda a ser divulgada, explorará justamente a problemática do empreendedorismo a partir da perspectiva dos grupos e entidades dedicados.as a organizar trabalhadores.as por conta própria.

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Equipe responsável pelo estudo: 

 

  • Coordenação:

Jacques Mick – Universidade Federal de Santa Catarina/ Departamento de Sociologia e Ciência Política/Laboratório de Sociologia do Trabalho

João Carlos Nogueira – Rede Brasil Afroempreendedor (Reafro)/ Observatório da Rede Brasil Afroempreendedor (UFSC/Reafro)

 

  • Equipe da UFSC:

. Professores do Departamento de Sociologia e Ciência Política:

Jacques Mick (Coordenação geral)

Thaís de Souza Lapa

. Pesquisadores.as:

Arland de Bruchard Costa (Mestre)

Delza da Hora (Mestranda)

Juliana de Jesus Grigoli (Doutora)

Lucas Ferreira (Doutorando)

Tomás Barcellos (Mestrando)

 

  • Infografia:

Frank Maia

Fran Louise