Resenha de “A revolução burguesa no Brasil”

15/07/2014 15:23

A revolução burguesa no Brasil

14.03.28_Ricardo Musse_A revolução burguesa no BrasilPor Ricardo Musse.

Em 1974, em meio à ditadura e dez anos após o golpe militar, Florestan Fernandes publicou A revolução burguesa no Brasil. Recebido à época como uma tentativa de explicação das origens e fundamentos do Estado autoritário, o livro tornou-se, com o decorrer do tempo, um dos clássicos da sociologia histórica brasileira, uma linhagem que possui seus momentos altos em Casa-grande & senzala (1933), de Gilberto Freyre; Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de Holanda e Os donos do poder (1958), de Raymundo Faoro.

Florestan emprega o conceito de “revolução burguesa” como “tipo ideal”, isto é, como princípio heurístico e fio investigativo da origem, natureza e desdobramentos do capitalismo no Brasil. Não se trata de um estudo empírico ou mesmo de comparar as vicissitudes do processo brasileiro com os modelos de revolução francês, inglês ou norte-americano.

A ausência de uma sucessão de acontecimentos de impacto, de uma revolução propriamente dita, não impediu o desenvolvimento do capitalismo no Brasil, mas ditou-lhe um ritmo próprio e uma condição particular. A idéia de revolução burguesa presta-se assim como uma luva para determinar as etapas do processo e, sobretudo, para compreender a modalidade de capitalismo predominante no país.

O livro foi redigido em momentos distintos: as duas partes iniciais (“As Origens da Revolução Burguesa” e “A Formação da Ordem Social Competitiva”) em 1966, e, a terceira parte (“Revolução Burguesa e Capitalismo Dependente”), em 1974. Esse último ensaio complementa os demais blocos, avançando o acompanhamento histórico anterior – que se detinha na época da abolição da escravatura – até o presente. Mas traz também alterações relevantes no que tange à atribuição de sentido ao processo histórico.

Os ensaios de 1966 seguem a periodização tradicional. A Independência abre caminho para a emergência da sociabilidade burguesa – seja como tipo de personalidade ou como formação social –, bloqueada até então pela conjugação de estatuto colonial, escravismo e grande lavoura exportadora. O simples rompimento com a condição colonial, a autonomia política engendra uma “situação nacional” que desenvolve o comércio e a vida urbana, alicerça o Estado e prepara a modernização.

A manutenção do sistema escravista, no entanto, polariza o país entre uma estrutura heteronômica (cujo protótipo é a grande lavoura de exportação) e uma dinâmica autonomizante (centrada no mercado interno). Socialmente, os agentes burgueses, em simbiose com o quadro vigente, organizam-se antes como estamento do que como classe, uma situação que só será rompida com o surgimento do imigrante e do fazendeiro do café na fronteira agrícola.

A introdução do trabalho assalariado e a consolidação da “ordem econômica competitiva”, no final do século XIX, não liberaram completamente as potencialidades da racionalidade burguesa. Antes promoveram a acomodação de formas econômicas opostas, gerando uma sociedade híbrida e uma formação social, o “capitalismo dependente”, marcada pela coexistência e interconexão do arcaico e do moderno.

No último ensaio, redigido em 1974, o conceito de “capitalismo dependente” passa a ser determinado pela associação da burguesia com o capital internacional. Com isso, altera-se o peso da dinâmica do sistema capitalista mundial e a própria periodização, marcada pela emergência e expansão de três tipos de capitalismo: o moderno (1808-1860), o competitivo (1860-1950) e o monopolista (1950-…).

A revolução burguesa teria conduzido o Brasil, portanto, à transformação capitalista, mas não à esperada revolução nacional e democrática. Na ausência de uma ruptura enfática com o passado, este cobra seu preço a cada momento do processo, em geral na chave de uma conciliação que se apresenta como negação ou neutralização da reforma. A monopolização do Estado pela burguesia – tanto econômica, como social e política – estaria na raiz do modelo autocrático, da “democracia restrita” que marca o século XX brasileiro.

Seria um erro grave, no entanto, atribuir a esse diagnóstico alguma forma de determinismo. O duplo caráter dos conceitos, as contradições que Florestan detecta a cada passo, em suma, a dialética como método deixa o campo livre para a ação histórica dos agentes e das classes sociais.

O livro A revolução burguesa no Brasil encerra o ciclo de interpretações gerais do país. Mas, forneceu, ao mesmo tempo, as balizas para uma série de estudos pontuais posteriores que abordaram tópicos decisivos como a resistência dos “de baixo” antes e durante a emergência das classes, as alterações do estatuto das nações no sistema-mundo ou as rupturas no padrão de acumulação no capitalismo.

REFERÊNCIA

FERNANDES, Florestan. A revolução burguesa no Brasil. São Paulo: Globo, 2005.

Lançamento de livro

15/07/2014 15:02

Título: “Mercosul e globalização : dinâmicas e desafios da integração regional”

Profs Drs. Marcos Antônio da Silva e Guillermo Alfredo Johson (Orgs).

Editora da Universidade Federal da Grande Dourados – Dourados/MS, 2014

Em 2011, o Mercado Comum do Sul (Mercosul) completou duas décadas de existência. Este período pode ser observado pelos avanços obtidos pelo processo de integração regional e pelos limites e os desafios que dificultam sua consolidação e aprofundamento. Este livro realiza um balanço (ainda que parcial) destas duas décadas de existência do Mercosul, procurando entrelaçar duas dimensões. A primeira, estrutural, apresenta uma análise crítica sobre o contexto internacional acima mencionado e retoma elementos do pensamento crítico para refletir sobre os desafios da integração sob o impacto da globalização e seus efeitos. A segunda dimensão, temática e conjuntural, desenvolvida nos três últimos artigos que compõem este texto, refere-se à análise de alguns temas fundamentais da agenda do Mercosul.

Acesso livro eletrônico: http://notes.ufsc.br/aplic/cfh.nsf/fc5c35577c67bab70325684200437902/35460b9ff18c10ae83257d1200779187?OpenDocument&Highlight=2,guillermo

 

 

Workers of the World n.º 4 disponível online

10/03/2014 12:02

O n. 4 do jornal da Associação Internacional para o Estudo das Greves e Conflitos Sociais, Workers of the World, está disponível online desde o início de Janeiro. Basta visitar a página da AIEGCS (http://workersoftheworldjournal.net/) e fazer o download gratuitamente. Conteúdo deste número:

Gary Blank. The Centrality of Social Relations: E.P. Thomson’s Concept of Class and the Renewal of Historical Materialism

Adrián Sotelo. Latin America: Dependency and Super-exploitation

Ronaldo Munck. Globalization, trade unions and labour migration: old dilemmas, new opportunities

Roberto Ceamanos. Working-class historiography in France, Italy and Spain: a comparative study (1939/1945-1982)

Sjaak van der Velden. Was there a ‘Great labour unrest’ in the Netherlands?

Lourenzo Fernandez, Dionísio Pereira, Andrés Domínguez. The Francoist persecution and repression of Galicians of Portuguese origin in Galicia (1936-1940) a transnational historical approach

Marcos Schiavi. Politics in the Peronist unions (1946-1955)

François Guinchard. The birth of an international anarcho-syndicalist current.

Leiam e contribuam para a difusão deste conhecimento.

Revista EM DEBATE indexada no Portal de Periódicos CAPES

26/02/2014 18:46

Desde o final de janeiro Em Debate [ISSNe 1980-3532] já se encontra disponível para consulta e pesquisa no Portal de Periódicos da Capes, uma ferramenta fundamental para as atividades de ensino e pesquisa no Brasil pela Facilidade de acesso à informação científica (reúne em um único espaço virtual as melhores publicações do mundo); pelo Acesso a conhecimento atualizado (artigos, livros e patentes que acabaram de ser publicados nos EUA, Ásia e Europa podem ser recuperados em tempo real); pela Democratização do acesso à informação  (portal de bibliotecas com a maior capilaridade do mundo, cobrindo todo território brasileiro) e pela Inserção internacional do conhecimento científico (acesso direto à produção de autores, periódicos e sociedades internacionais mais conceituados da sua área).

Nota de falecimento da estudante Allisson Fitipaldi

24/02/2014 10:56

O LASTRO lamenta o falecimento da estudante de Ciências Sociais e bolsista do Laboratório Allisson Gabrielle Fitipaldi Suarez, ocorrido sábado 22/02. Ela foi sepultada domingo 23/02 no Cemitério do Rio Vermelho, em Florianópolis.
Allisson cativou a quem com ela pode partilhar espaços acadêmicos por seu elevado senso de responsabilidade e dedicação nos estudos, pesquisas e trabalhos administrativos.
Além de estudante, Allisson era participante do Portal Desacato e da Cooperativa de Produção em Comunicação e Cultura.
O LASTRO manifesta seu pesar e solidariedade a familiares e amigos.

Projeto sobre a Memória Política de Santa Catarina

12/12/2013 18:50

Concebido em parceria com a Escola do Legislativo da Assembleia Legislativa do Estado (Alesc) e coordenado pelo Prof. Jacques Mick, o projeto intitulado “Memória política de Santa Catarina” objetiva produzir e disponibilizar a professores e estudantes de nível médio material didático de qualidade para o ensino da história política de Santa Catarina, em ambiente virtual de aprendizagem a ser lançado na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2014. Tal projeto foi contemplado com financiamento pelo CNPq. Para inteiro teor Acesse Aqui

Editoria Em Debate convida para os lançamentos 2013

05/12/2013 11:06

A Editoria Em Debate, vinculada ao Laboratório de Sociologia do Trabalho (LASTRO) – UFSC – e demais núcleos, professores, técnicos pesquisadores e estudantes dos programas parceiros, convida para os lançamentos 2013:
– 8 livros (vide imagens)
– Revista Em Debate n. 8
– Galeria Virtual III
Local e data: 10 de dezembro de 2013, terça-feira, 19:00 no auditório do CFH.
Trata-se de um esforço coletivo de abrir o conhecimento e a linguagem artística como expressões críticas, para tod@s, aberta e gratuitamente como compromisso da universidade pública e autônoma e de seus autores.
Sejam bem vindos.
Editores

Trabalho Escravo: Nota pública do GPTEC sobre a PEC 57A/1999

07/11/2013 14:18

O Grupo de Pesquisa Trabalho Escravo Contemporâneo – GPTEC, do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos, do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, reuniu 43 pesquisadores de universidades e instituições nacionais e internacionais, professores e estudantes de diferentes áreas do conhecimento no decorrer da 6ª Reunião Científica sobre Trabalho Escravo Contemporâneo e Questões Correlatas, entre 29 a 31 de outubro de 2013, na cidade do Rio de Janeiro.

Preocupados com a tramitação de projeto de lei que regulamentará a Proposta de Emenda Constitucional 57A/1999, que prevê a expropriação de propriedades urbanas e rurais onde for flagrada a prática de trabalho escravo, os participantes da Reunião manifestam sua divergência quanto à alteração no conceito trabalho escravo contemporâneo. O projeto não prevê que a expropriação ocorra se forem encontradas condições degradantes ou jornada exaustiva na qualificação do trabalho executado. Isso vai de encontro ao que prevê o artigo 149 do Código Penal. A retirada desses termos da regulamentação da PEC resultará em retrocesso nas conquistas do Estado Brasileiro no que tange ao combate a essa forma de escravidão.

A experiência brasileira de combate ao Trabalho Escravo tem sido citada como referência internacionalmente através de diversas pesquisas acadêmicas e através da mídia, e é reconhecida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).

O grupo entende ser desnecessária a proposta de redefinição do conceito de trabalho escravo trazida pela regulamentação, pois este já se encontra no artigo 149, do Código Penal, como foi reconhecido pela maioria do Excelso Supremo Tribunal Federal, em mais de um julgamento (Inquéritos 2.131 e 3.412).

Rio de Janeiro, 31 de outubro de 2013.

Publicado número 8 da Revista EM DEBATE

27/09/2013 17:11

Em Debate acaba de publicar seu último número em https://periodicos.ufsc.br/index.php/emdebate.
Convidamos a navegar no sumário da revista para acessar os artigos e itens de interesse.
Solicitamos a gentileza de replicarem em suas redes de contatos e lembramos aos autores que a revista recebe submissões em fluxo contínuo.

José Carlos Mendonça
Editor-assistente

Em Debate n. 8 (2012): 2º semestre 2012
Sumário
https://periodicos.ufsc.br/index.php/emdebate/issue/view/1915

——–
Editorial (1-4)
Giuliano Saneh

Artigos
——–
Trabalho produtivo e trabalho improdutivo nas “Teorias da Mais-Valia” de Karl Marx (5-22)
Artur Bispo dos Santos Neto

As alternativas de construção de “um outro mundo possível”: Movimentos Sociais, Estado e/ou Classe Trabalhadora? (23-37)
Wolney Roberto Carvalho e Samya Campana

Lumpemproletarização juvenil e contestação social na Grande Buenos Aires (38-53)
Lisandro Rodrigues Braga

O partido político em Florestan Fernandes (54-68)
Michel Goulart da Silva

Anarquismo, poder, classe e transformação social (69-89)
Felipe Corrêa

Rede e-Tec  Expansão da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica ou  Expansão do Neoliberalismo? (90-109)
Renata Luiza Costa

Apontamentos teórico-metodológicos para o estudo de instituições escolares: a especificidade da Escola Militar (110-125)
Marcus Fernandes Marcusso

As interpretações da metamorfose do PT  a partir da esquerda brasileira (126-147)
Henrique Cignachi

Resenhas
——–
Sobre a Integração e Cidadania Europeias (148-150)
Rogerio Duarte Fernandes dos Passos

Normas para publicações
——–
Instruções para autores
José Mendonça

LASTRO recebe equipe do PET Design/IFSC para conhecer a Revista EM DEBATE

18/09/2013 17:58

No dia 03/10 quinta-feira o LASTRO receberá a visita da equipe do PET Design/IFSC.

Sob a coordenação do Prof. Iraldo Matias, o PET Design/IFSC pretende conhecer a experiência da Revista Digital EM DEBATE  no sentido de adquirir conhecimentos para inserir a construção de um periódico científico como uma das iniciativas para aprimorar a qualificação acadêmica dos bolsistas.

O encontro inclui ainda visita à Biblioteca Universitária para conhecer o Portal de Periódicos da UFSC, apresentado pela coordenadora do portal, bibliotecária Andréa Grants, que também proferirá palestra sobre os primeiros passos para a constituição de um periódico científico.